Por que não?

Parabéns àqueles que se dão ao trabalho de abaixar para ver o que está escrito num papel do chão. Parabéns àqueles que encontram mensagens em garrafas. Parabens àqueles que escutam palavras jogadas ao vento. Esta é a minha homenagem.

Friday, October 09, 2009

desafio 7

Com uma velocidade digna de uma narrativa de Kafka, coisas começaram a acontecer ao redor do bar. Uma velhinha deixou cair um saco com latas amassadas bloqueando o caminho dos pedestres; uma pessoa nitidamente homosexual (suas vestes eram exuberantes como cauda de pavão, mas diferente no quesito 'bom gosto'); Um carro tentando desviar dos pedestres que por sua vez se desviavam da velhinha catando latas no meio da calçada, acabou batendo em uma moto; O rebuliço estava se formando quando o homosexual saiu correndo para ver, esbarrando em um dos dois bebados que ainda esperavam uma resposta de Canguru; O garçon acidentalmente esbarrou no controle remoto fazendo o volume da televisão (que no momento anunciava uma engenhoca qualquer destinada a fazer as pessoas mais magras); Dois mendigos entraram no bar e sentaram aparentemente esperando ser atendidos, mas sem nenhuma possibilidade de terem algum dinheiro, a julgar pela apresentação: Irrepresentável! A tudo isso Canguru acompanhava com dificuldade, esperando pelo que os dois bebados iam fazer. Armava-se uma pancadaria generalizada entre o homosexual, a velhinha, o motorista do carro e o motoboy acidentado. "E nós garantimos: Sua barriga vai virar um tanque de guerra!" gritava, quase agredindo os ouvidos do rapaz, a televisão. Nesse momento, tudo de importante que ele estava pensando estacou: "Que slogan de merda" foi a unica coisa que passou pela sua cabeça naquele breve momento, antes da explosão da confusão generalizada.

Wednesday, October 07, 2009

Desafio 5

Na cena seguinte, sobre a montanha, notava-se facilmente o fundo pintado e as árvores falsas. Os tais artificios, em vã tentativa de cenarizar o entorno do grupo, padeciam de certos detalhes, como o balançar das folhas das árvores ao vento, e o efeito de ótica de clareamento de acordo com a distância, e as atuação não eram melhores do que a produção toda. A loira estava acompanhada do brutamontes (outra personagem tipo em filmes como este: montanhas de musculos, pouco cérebro, muito camaradas do presongem principal, mas que nunca terminam com mulher nenhuma). Este tinha sido uma espécie de escudo humano do grupo até que o mocinho tomou tenencia e mostrou seus dotes de cavaleiro de insetos gigantes. Com zoom na face de preocupação da mocinha olhando para o fundo da encosta, entram as propagandas. Isso foi suficiente para despertar novamente Canguru, e faze-lo lembrar que seus vizinhos de mesa já se preparavam para partir. Na tela o anúncio do próximo episódio de C.S.I, e novamente um comentário suspeito do bebado, o mesmo que falara todas as outras coisas: "Esses caras são muito bocós. Eu seria capaz de esconder um corpo que nunca descobrissem que aquilo era um corpo" ao que o outro manifesta-se pela primeira vez, surpreendendo com um grão de sabedoria da qual até Canguru se beneficiou: "Se a oportunidade de matar, e a vontade de matar viessem sempre juntas, já não havia pessoa na terra" e ainda acrescentou "eu não sei se é bem assim, a sentença, mas a gente aprendendo as coisas deste modo, oralmente, acaba esquecendo as palavras certas, mas o que sei, é que sei que essa frase é muito boa"

Tuesday, October 06, 2009

Desafio 3

Enquanto bebericava o restinho de cerveja, Canguru (seus amigos o chamavam assim pois ele usava sempre uma pochete) pensavasobre a estranha conversa que escutara dos gorilas da mesa vizinha. Pensava o que teria feito aquele estivador com a jovem, na ocasião em que se encontravam, no escuro sem ninguem por perto. O filme parecia metaforizar a cena: O besouro gigante trincava a cabeça da jovem morena do filme (a loira sempre vive no final) como se fosse um pequeno tomate. Na cena seguinte, um líquido negro e espeço escorria pelo chão, e a mão da menina entrava em quadro, tombando inerte. Os bebados deixavam de lado a salada e pediam a conta e mais uma cerveja. Dez minutos depois o garçon trazia um papelzinho com as cifras anotadas a mão: $10,50. Sem cerveja. Os bebados reclamaram e ele disse que ja ia pegar, riscou o papel e colocou o novo valor da conta, 13 reais, voltando 15 minutos mais tarde com a dita cuja gelada. O menino nem se atreveu a pedir nada. Apenas esperava, imaginando cenas tais que nutria quase ódio pelos dois gorilas. O filme avançava para a parte em que o mocinho montava o besouo como se fosse um touro.

Sunday, October 04, 2009

Desafio

Ele não estava pensando em nada. Apenas olhava para o infinito através da parede do bar, duas braças a sua frente. Normalmente sentava-se de costas para a parede, mas não pensava em nada desde que escolhera o lugar para sentar, e por isso não decidira sentar-se aqui ou ali. Apenas sentou. E se deu conta de que estava virado de frente para a parede no momento em que a voz rouca de algum bêbado chamou sua atenção: “ela era uma vadia, uma galinha safada que ia pra cama com qualquer um. Aí eu aproveitei que estava escuro e não tinha lanterna nem nada pra...”. O rapaz tentou virar-se discretamente, mas não foi bem sucedido, pois os dois gorilas perceberam e interromperam seu diálogo. ficaram encarando-o. Levantou o braço para chamar o atendente, disfarçando.