Por que não?

Parabéns àqueles que se dão ao trabalho de abaixar para ver o que está escrito num papel do chão. Parabéns àqueles que encontram mensagens em garrafas. Parabens àqueles que escutam palavras jogadas ao vento. Esta é a minha homenagem.

Wednesday, November 01, 2006

Que será, será

Belas palavras... Ecoam de um passado quase remoto. Estranho me ver aqui, no que já é, e que antes era o que seria.

Era uma criança. O futuro era promissor, mesmo entrege ao desconhecido... Que será, será... e que assim seja. Parecem sábias de tão belas que soam essas palavras.

Estava enamorado... apaixonado... perdidamente... O que aconteceu? Até hoje não compreendo o que aconteceu. Perdemo-nos um do outro. Não pareces ter sofrido tanto. Outro dia estava re-lendo aquele fatídico e-mail que te escreví... o pior de todos... Me identifico tanto com aquele texto. Acho-o lindo. Lindo como as grandes cidades com seus automóveis e barulhos e luzes de neon, como as torres das fábricas a cuspir fogo no horizonte, como os gigantescos petrolíferos.... acho-os lindos como esse meu texto. De uma forma destrutiva despertam uma libido proibida do fundo mais obscuro da minha alma. Sadismo lírico. Masoquismo rascante como um gole de cachaça (lembra de como eu gostava de cachaça?)

"Que será, será" dizia eu, cheio de planos que escondia de mim mesmo com essa frase ingênua. O que será, não sabemos, mas podemos saber que não será o que esperamos. Ahhh... o que aconteceu... até hoje não sei.

Lembra da viagem para Teresópolis? Claro que lembra. Sabia que nunca me beijaste? Eu sei que não. Lembro-me de você pedir para te beijar, mas nunca me beijaste. Disseste que não gosta de beijar por causa do maxilar... Você é uma pessoa estranha. Muito estranha, mas saiba, pelo menos, que és muito superior que eu. Sempre estiveste um passo a frente. Sempre conheces coisas que eu não coheço, sempre foste a lugares que eu não conhecia, sempre viajas-te mais do que eu. Tu foste feita para voar. Talvez por isso tenhas voado de mim. Voado de mim... nunca tinha posto as coisas nessas palavras. São bastante convenientes. Tu voaste de mim, e eu corrí atrás de você até o mar... Já viste um pássaro a voar para o mar? Foi como eu me senti ao ver-te a ir... Não podia segui-la, pois não fui feito para voar, nem nadar, e sei que mesmo que forjasse asas de cera, elas derreteriam com o sol, e você continuaria em sua ascendência infinita até mergulhar nas estrelas, e eu cairia como Ícaro. Tu és como o sol de Ícaro para mim. Ardes em meus olhos e minha alma sente frio. Queria te possuir, queria te engolir! Isso seria podar tuas asas e juntos cairíamos.

Nossa... Quem diria, naquela época do "que será, será", que o futuro seria o que é.... Bom... talvez não fosse tão absurdo assim.

De qualquer forma, acho que mais sábio do que essas palavras de uma tristeza velada pela beleza; mais sábio do que essas palavras por ser de uma tristeza plácida, embora não sem beleza; mais sábio por ser mais útil e mais verdadeira... Mais sábio do que dizer
"Que será, será"
é saber que
o que se foi,
se foi.