Por que não?

Parabéns àqueles que se dão ao trabalho de abaixar para ver o que está escrito num papel do chão. Parabéns àqueles que encontram mensagens em garrafas. Parabens àqueles que escutam palavras jogadas ao vento. Esta é a minha homenagem.

Saturday, May 13, 2006

Ei... quem é você que anda por aí no meio da rua? Todo bem vestido e sem um tostão furado. Aonde você pensa que vai? Não sabe que andar assim sem se preocupar para onde e por onde é perigoso? imagina o que as pessoas vão pensar?!

Responde! eu sou seu amigo cara. Estou com você. Tá vendo, eu também num tenho nada nos bolsos. Pode contar comigo. Fala. Quem és tu? Sabes que o silêncio é uma resposta tão válida quanto qualquer outra que pudesses dar. Às vezes diz-se mais sem se falar nada. Mas também não precisas me ignorar né. Boa noite pra tí também. Nem vou perguntar teu nome. Sei que não me dirás. Também não direi o meu. Sabes que estarei mentindo né? hehe...

E aí? de onde vens?

...

É meu amigo (posso te chamar de amigo?), a vida está dura para todos. Não? Diz o que pensas. Quem não tem um confissor não tem nada. Confessa. Vem um carro, vamos para a calçada. Como assim quem sou eu? Já te disse que mentiria e tu saberias.

Toma fogo. Acende teu cigarro. Arranja me um? Obrigado. Não devias fumar sabias? Claro que sabes. Faz mal para os pulmões. Mas quem quer saber dos pulmões. Antes de saber dos pulmões convém saber para onde vamos, certo? Mas tu não sabes para onde vamos. Eu? Eu vou contigo.

Vamos parar aqui. Vou tomar uma dose de cachaça. Não te preocupes. Eu pago-te uma. Não precias retribuir. Já me deste um cigarro.

Fala-me então. Em que pensas? Eu sei em quê pensas. Pensas nelas, certo? Todas elas. É... Elas são veneno. E o pior tipo de veneno. Do tipo que vicia e mata aos poucos. É por isso que estás a andar assim? Não? conta-me então. O que te leva por esses caminhos a essas horas?

(silêncio)

Continuemos nossa caminhada. Um gato de sorriso de lua descreveu a nossa vida (tomo a liberdade de falar da tua vida com a mesma familiaridade que da minha vida, uma vez que nosso passado é igualmente nulo em relação ao presente e nosso futuro igualmente desconhecido). Foi poética, mas nem por isso menos verdadeira (os poetas mentem): "Se não sabes aonde quer chegar, não importa que caminho tomas. Todo caminho leva a algum lugar. Basta andar o suficiente".

Não tem graça? É. Também não achei engraçada.

(silêncio)

Confessa-te.

(silêncio)

tudo que tens são confições. Se não tiveres um confissor, tudo que tens será nada.

(silêncio)

Eu sou teu confissor. Quem é você que anda por aí no meio da rua? Todo bem vestido e sem um tostão furado. Aonde você pensa que vai?