Por que não?

Parabéns àqueles que se dão ao trabalho de abaixar para ver o que está escrito num papel do chão. Parabéns àqueles que encontram mensagens em garrafas. Parabens àqueles que escutam palavras jogadas ao vento. Esta é a minha homenagem.

Saturday, August 08, 2009

Carta a M. Lannes de http://ponteiroapontado.blogspot.com/

“Eu acho”... Essa é uma maneira interessante de começar qualquer texto. Eu acho isso desde que a repetição dessa tal maneira de começar um texto fez com que colegas de classe do ensino básico me fizessem chacota. Era uma piada que eu não entendia, mas me ofendia, e talvez o mais curioso seja precisamente isso. Eu me ofendia pelo fato de estarem fazendo chacota comigo, e não pelo conteúdo da chacota, que na verdade era de tal forma estranho que me deixou interessado até hoje. Sempre que me deparo com uma folha em branco vem à mente a imagem precisa de eu sentado no meio à direita de uma sala de aula comprida onde uma professora (de ciências) que parecia ter muita experiência prática no assunto explicava: a reprodução humana. Eu levantei a mão e disse
“eu acho...”
E, acho eu, pelo fato de eu já ter dito aquilo muitas vezes, o Marcos repetiu no tom jocoso como que imitando um doente mental (extremamente irritante e intencional só proferido pelos seres mais baixos do planeta)
“eu acho...” seguido por uma gargalhada geral.

Essa história tem uma relevância incrível para mim, ao ponto de eu sempre me lembrar dela quando vou começar a escrever qualquer texto. Na verdade, não precisamos acreditar em tudo que escrevemos, mas quando nos deparamos com uma folha em branco, sentimos a forte compulsão de escrevermos o que achamos. Eu acho isso e estou escrevendo. Mesmo se não fosse percentualmente verdadeiro - que na verdade seja uma minoria que sinta essa compulsão - alguma relevância teria a história que eu vivenciei para achar o que acho, por que é essa lembrança de humilhação que me faz hesitar sempre que vou começar um texto da minha forma mais natural: “eu acho”.

Isso tudo me veio a partir da decisão de te escrever, meu caro M. Lannes, e menos para falar sobre a minha infância do que para levantar um debate já sugerido pelo seu texto (parágrafo, devo dizer) em que falas sobre parnasianismo.

“De uma forma geral, acho que o que eu faço não fica muito bom e, aliás, isso também pode estar ligado ao motivo de eu não ter tentado antes. É estranho, porque na medida em que vou desenvolvendo, acho que está bom, mas quando acabo ou reavalio o que foi feito posteriormente, sempre acho que ficou uma porcaria”

Obra interessante. Assumidamente, uma rompedora de placentas psicológicas! Como qualquer obra, algo que não tem mérito em ser o que é simplesmente, mesmo que seja uma coisa muito rara. Ser um bebê, teoricamente, é a coisa que menos tem mérito no mundo. Mas felizmente, estamos vendo possibilidades concretas de ver essa mesma escrita de eu achismo que é a larva de tudo, desde os gênios aos ditadores e aos bêbados mais mendigos junto mesmo com todos os sentimentos de frustração que permeiam o fracasso autêntico, crescer e andar e quem sabe um dia até mesmo nos enterrar.

Às vezes eu tenho medo do fracasso autêntico. Quanto mais alto voamos mais dolorosa é a queda.

A escrita do eu achismo é um problema sério. Ainda poderia discorrer mais sobre esse assunto, sobre a segurança que ele traz ao aliviar o peso de responsabilidade sobre o que escrevemos. Poderia ainda continuar e explicar o seu oposto, a soberba, igualmente problemática, por ser um salto de queda livre de um avião, e não a rastejância do achismo. Escrever é como voar. É preciso planejar cuidadosamente o meio natural que queremos vencer, observar o comportamento das aves sob as correntes e construir com cuidado um protótipo antes do modelo final, e sempre lembrar de não voar próximo demais do Sol.

Mas ao invés disso vou apenas mudar grosseiramente de assunto e te perguntar quem é essa Cristiana Saldanha, sua professora de português??? Devo dizer que seu comentário está um tanto... não sei... exagerado nos elogios talvez

"seu dom de escrever”, “Uma literatura leve e que flui”, “instiga o leitor a querer saber mais e mais do narrador”

Essa ultima principalmente meu caro Lannes, não se aplica totalmente. Porquê eu quereria saber mais sobre um cara que só procura maneiras rotativas de manter a atenção do leitor, dando voltas a assuntos genéricos? Um parnasiano, enfim, que não escreve sobre nada, não instiga ninguém a nada. Eu já disse o que acho do texto e hás de concordar comigo que os méritos desse jovem são principalmente o futuro presente que vivemos! Saiba que eu odeio comentários desses aos MEUS posts, que elogiam coisas que nitidamente não estão presentes no texto.

Aliás, os comentários dos blogs das outras pessoas às vezes são muito mais interessantes de se vasculhar do que o próprio blog. A gente acaba descobrindo coisas. Afinal, um blog é quase um diário pessoal à disposição da humanidade conectada!

Muito obrigado por postar Erasmo! Lindo de mais... Vou procurar algumas traduções em uma biblioteca particular de Niterói e posto aqui o que encontrar.
Se encontrar.

Abraços
Do sempre teu
F. Negreiros

1 Comments:

Blogger MLF said...

Divirta-se...
http://ponteiroapontado.blogspot.com

9:54 PM  

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